1.31.2008

Quebra

Existe um mar imenso desconhecido entre a interpenetração dos sentimentos com os pensamentos. Que raio de esquisitice esta do ser me pôr a pensar naquilo que não consegue pensar mas apenas sentir! Inebriante? Confuso. Nenhum rasgo de crueza de um pensamento que se dedica a uma paisagem de sentimentos se acalma. Quando te sinto sinto-te completamente. Não me perguntes como, porquê, durante quanto tempo. Sinto-te. E penso sobre inefabilidade de sentir algo tão belo e de tal abraço de sentimentos ser um fenómeno corporalmente total, como todos. Como todos? O que dizes? Não se nota que quando penso nesta amálgama que serpenteia a existência da vida em mim tenho dificuldade em apreender exactamente os sentimentos que pavoneiam com a sua singularidade? Nota-se claro. Penso na palavra, sinto-me e penso: "xiça! que raio! Como é que posso passar para o pensamento toda a tonalidade dos sentimentos que sinto?". Sei que sinto e sinto que não consigo pensá-os enquanto me dedico a arranjar uma maneira de os organizar. No final tenho um breve trecho; um bloco de notas que assinala que hoje houve um terramoto que implodiu em silêncio. Ninguém fala lá fora. Mantenho-me atento às mudanças no meu panorama. Penso: "Como apreender tudo tudo tudo?" Alguém responde com a minha boca que não posso. Cala-te! Lá vou eu outra vez...Quem pensa cala um pouco do que sente mas não deixa de sentir que existe muito mais para além dos arranjos que o pensamento faz da vida. Hum...o que é isto? Consegues sentir?

1.17.2008

Problema de comunicação

"..Cada homem é, ao mesmo tempo, um ente individual e um ente social. Como indivíduo, distingue-se de todos os outros homens; e, porque se distingue, opõe-se-lhes. Como sociável, parece-se com todos os outros homens; e, porque se parece, agrega-se-lhes.
A vida social do homem divide-se, pois, em duas partes: uma parte individual, em que é concorrente dos outros, e tem que estar na defensiva e na ofensiva perante eles; e uma parte social, em que é semelhante dos outros, e tem tão somente que ser-lhes útil e agradável. Para estar na defensiva ou na ofensiva, tem ele que ver claramente o que os outros realmente são e o que realmente fazem, e não o que deveriam ser ou o que seria bom que fizessem. Para lhes ser útil ou agradável, tem que consultar simplesmente a sua mera natureza de homens."

página 131 do livro "Organizem-se: a gestão segundo Fernando Pessoa", de Fernandes, F.


À luz da Economia do trabalho, o problema do recrutamento é um problema de informação.

“Uma relação de agência ocorre quando o principal delega alguns direitos – por exemplo, direitos sobre a utilização de recursos. a um agente que está obrigado através de um contrato (formal
ou informal) a representar os interesses do principal em troca de uma remuneração de
qualquer espécie” (Eggertsson, 1995, 40-41).

De acordo com a teoria da agência as relações entre principal e agente caracterizam-se por:
a) assimetria de informação - o agente dispõe de mais informação sobre os detalhes das tarefas a
executar do que o principal o que lhe permite tirar vantagens;
b) os interesses das partes
envolvidas (principal e agente) não coincidem e muitas vezes podem entrar em conflito; e
c) a existência de comportamentos auto-interessados e oportunistas por parte dos
agentes conduzem a custos mais elevados para o principal.

1.10.2008

Tu e Deus: quem é quem?

Se Deus não responde às perguntas ou anseios dos crentes que tentam falar com ele, como será possível falar em Deus sem se dizer que Deus “está” em cada um de nós? A comunicação entre um ser que tem consciência de si próprio e uma entidade abstracta é problemática.
Aceita-se que Deus vive, de forma omnipresente, em todos os seres. Aqueles que dialogam com ele dialogam consigo próprios. Deus é personificado por uma posição individual que se molda pela imaginação que dele se cria. Portanto, todos os actos dirigidos a uma entidade abstracta como Deus visam, antes de mais, o próprio humano. Ele, ao rezar ou ao desejar algo, fala consigo próprio, dinamizando a fita elástica Eu-Outro. Será Deus um processo e não uma entidade? Um processo de auto desenvolvimento, de expressão da existência mais básica? Um artefacto cultural inefável que se assemelha à fluência da existência e à espontaneidade de existir?
Quem não acredita em Deus estará a anular uma abstracção ou a modificar o processo de diálogo que alguém que acredita mantém? Não se acreditar em Deus não significa não dialogar...connosco. Não acreditar em Deus significa colocar de parte uma forma de dialogar com o próprio, não uma particular rejeição de algo em concreto. Significa seleccionar que o humano não quer falar de si próprio assim, num diálogo com características que lhe desagradam.

1.03.2008

Organização básica

O self dialógico, enquanto processo organizador da existência humana, é um constante produto da alteração da relação entre existir e existência, entre a fluidez da existência e espontaneidade de existir. É um diálogo organizador do ser humano na relação que ele mantém com a vida (inclua-se o próprio ser, os outros, o meio físico, o futuro, o passado, etc..).
Dialogamos com a nossa criação fluída, corporizada, e com a nossa imaginação dos outros que habitam o nosso espaço de existência.
Sendo que o self dialógico visa compreender a organização geral do ser humano, nunca poderá tender a decalcar em papel químico o processo Humano de existir. Pensá-lo rondará a utopia. Responder a perguntas como "qual é o objectivo de ser Humano?", "qual é o sentido da existência?", "como existimos?", será impossível fora da fluência organizadora da existência Humana. E a que nível queremos responder a estas perguntas? E qual a vantagem de o fazer? E quais as desvantagens de não querer fazer?
A impossibilidade de sermos efectivamente, fisicamente, mais do que um, leva-nos a uma solidão dialógica. Presos ao diálogo do ser com os seres, não conseguimos ultrapassar o processo necessário que funda a existência: a organização da diferença.

Menos Humanos do que Humanos

Somos estranhos. Somos espontâneos e fluídos. Espontâneos porque a nossa existência impele-nos a inovar a cada momento; fluídos porque existe um contínuo de organização da existência individual, incessante e incontrolável. É a fluência da existência. E somos menos tempo espontâneos do que fluídos. A nossa vida organiza-se tacitamente, sendo o nosso organismo o principal organizador da nossa relação com a vida, incluindo-se nesta relação todas as expressões de vida. Esta organização constante e adaptada à vida idiossincrática, permite-nos existir. Todavia, muitas vezes somos mais espontâneos do que fluídos. Isto acontece quando utilizamos o nosso organismo como chefe de uma existência. Planeamos, inventamos, organizamos, dialogamos. Temos o poder de alterar a vida de forma incisiva e tremulamente controlável. Escrevemos texto, pensamos no que deverá ser escrito e naquilo que não faz sentido escrever. Construímos. No entanto, ao mesmo tempo, somos um curso incessante de fluência de vida. Inevitável, incontrolável, sustentável. A vida flui e, retrospectivamente, olhamos para aquilo que foi feito e perguntamos: "porquê? porquê assim? porque fiz isto assim?". Desviamos a cara de um rosto amargo, fixamos o olhar numa paisagem inefável. Fluímos. Não reconhecemos o pensamento sobre algo. Nessas alturas somos Humanos, na nossa mais primitiva expressão, e menos Humanos na nossa conceptualização moderna e racional de ser Humano, de existir.