2.11.2006

E tu, sabes o que é?


estou com uma ilusão no ponto mais longínquo dos dedos...
é o ponto divergente entre a abrupta necessidade de ser e a profunda vontade de voar....
a paixão é uma ilusão porque amas uma pessoa que não existe na sua singularidade mas enquanto divindade co-construída...a ilusão é uma distorção da realidade...Amor não existe na realidade..é um sôfrego recolher da natureza...o Amor não é uma ilusão mas o Amor pode iludir e pode desvancer...aí cairá na realidade? não sei nem quero saber. Amor sem paixão é inteligível mas paixão sem Amor é vulgar.
Paixão, realidade, Amor, irrealidade.
Durabilidade (arghh de termo) ou longevidade: paixão pouco duradoura em norma e Amor duradouro em norma...a irrealidade e fluidez do subliminar perfura o tempo. A paixão corroi.
O Amor só pode vir a ser real se a paixão corroer o Amor e a realidade. Resultado? filhos? naa... Resultado: qualquer coisa fluída que não admite palavras adequadas, só imaginação embelezada. Possível? ...longevidade? creio que breve em média...Conhecimento? vivo na ignorância...
finito

e a "coisa fluída que não admite palavras adequadas, só imaginação embelezada" é o amor?
não..
não sei o que é...
mas é bom..
é um derivado do amor?

admito que não é fácil perceber...
é um ramo (no sentido de árvore) de uma raíz....
é o Amor e não é ele..
é Paixão e não é ela..

mas tens razão não é o amor...é qualquer coisa que existe mas que inda não lhe deram um nome
não, são os dois juntos...
é qualquer "coisa" que admite o "não-amor"..
porque o amor pode ser traduzido em palavras


o desejo pelo "amor futuro"...

pode?
não sei..nunca soube ou descobri o que é o Amor...
secalhar aquilo que nós achamos que é o amor
pode ser traduzido em palavras
mas dou-lhe nome próprio para a eventualidade de o conhecer ter como apresentação o nome dele..
é qual é o nome dele?
é Amor...
é o senhor
o senhor não...
ele tb é um senhor mas não O senhor..
também não é Deus...sou profundamente ateu...é a minha crença..ou melhor, substituo Deus com os outros pensamentos...
mas escreves deus com letra maiúscula, porquê?
o mais estranho é essa inteligível estado poder ser incluído pelo "não amor" ou desejo de amor por outros que não o seu objecto...
porque lhe dou o nome próprio dos que acreditam nele..
ele existe...nas crenças das pessoas...
por isso é que faz sentido o "se acreditares o suficiente é verdade"
as pessoas precisam de acreditar em algo superior
o Amor é algo semelhante...
quando deixas de acreditar o Amor flui para outro ser...
mas nunca podemos deixar de acreditar
acreditar num Amor para um determinado "objecto de Amor"...
o Amor, esse não diminui ou destrói-se...modifica-se..
se diminuir é porque não era amor
isso não sei...

acho a palavra amor tão usada que as pessoas não sabem o que é e usam-na em vão
se diminuir é porque foi Amor e provavelmente não voltará a ser..
calorias de palavras é bom
mas não quando pões numa o que poderá pertencer a outras ainda não descobertas...
mas até se descobrir as pessoas assumem como outra coisa
até chegar uma pessoa e dizer que isso não é assim
e não tem esse nome
pois...secalhar é o ventre do tempo..
outra questão interessante...
serão os Amores mutuamente excludentes?
um ramo para cada fruto..
Um Amor para cada pessoa, co-criados pelo mesmo ser?
concebo o Amor em relação, obviamente...e em diálogo interior...em múltiplas posições...provavelmente sim, o amor vem da mesma raíz mas como os frutos são diferentes, não há dois iguais a forma de os amor ou de lhes conceder o amor vai ser diferente
é a forma de os amar
claro...
estou a pensar se será possível, por ex., uma pessoa mulher Amar dois homens ao mesmo tempo....
é possível
eu acho que sim
e querer os dois até ao fim e não saber quem Ama mais... (o problema é que não há termómetros no Amor)
por causa disso a forma de os amar não vai ser igual, porque eles não são iguais
é isso mesmo, não há termómetros
claro...é óbvio dado que o Amor existe numa relação não numa Alma aristotélica..
se eu Amo digo-o quando ele em sintonia ilumina ambos os rostos...
se sinto ciúme, é o medo do futuro a chamar...
se peço confirmação de Amor, estou a ter pena de mim e a querer aconchegar-me no meu self pitty...
se Amo, Amo e não perco tempo a não Amar..
posso ter ciúme de um Amor que não tenho...mas nunca do que tenho...
isso é verdade
é uma perspectiva, muitas mais existirão...qual a melhor? não existe..
pois não
cada pessoa tem a sua, é como a religião
mas é assim que eu me faço sentido...

2.01.2006

Errante


Percorri a face dos caminhantes errantes naquele tarde de Inverno. Os flocos de neve, passadeiras de um rumo incerto. Trazia nos meus olhos os lagos de Verão e tentava escamotear a presença dos traços que me trouxeram ao presente. Pensava naqueles momentos indecifráveis e irrepetíveis, nesses momentos em que o tempo era um espaço e o espaço um tempo coerente. O tormento do momento fez-me perceber de que folhas são feitas as memórias que caem de uma árvore que teima em ser irresistível ao domínio. Era um espaço de ruas interceptáveis, as mãos sibilantes rodopiavam no desejo. Porque teria sido assim? Não uma pena escritora, não um olhar delicioso ou uma cintura torneada pelo vazio e ausência. Uma mescla de reconhecidos tumultos. O cabelo longo, liso, imaginante e imaginado não era de Sansão. As formas brancas, luzidias, íngremes, apaixonadas pelo tacto não eram desenhos no papel químico dos mitos de quem ousa desafiar. A passada deambulante, errante, construída de olhares que me viam e me empurravam para o irreconhecimento. Um ponto entre o nada e o desejo. As delgadas ruas do passado conduziam-se sem demoras e sem agravos. Agrafei nessa noite o aleatório ao sonho. Não insisto em sonho, apenas o foi no momento em que os olhares trocaram-se e a gravidade das memórias exultaram-se. Perderam-se vidas, aquelas que viriam na cesta que cada um traz perto do coração. Escrevemos no corpo nu um corpo desejável que seja decifrado concomitantemente com a ilusão da fusão. Não foi o aço aparente das normas com que se reescrevem as vidas que necessitei de me expandir. Os passos eram cintilantes e a pele um tapete com um mural com insígnias. Nunca o teria visto sem a ríspida ausência. Era um quadro martelado pelo vazio, diria. Era um novo sânscrito, uma velha descoberta, um novo rosto e uma velha e recalcada rua. O fundo em que os trotes dos cavalos marchavam, provocavam espasmos de alegria. Não seria um tempo deslizante, sem memória. Um fluído coerente em que à superfície nada era preciso dizer excepto o que as palavras mudas do olhar e do silêncio transmitiam. Tinham sido anos leves em que a presença e a ausência não se distinguiam. O ponto em que chave entrou e abriu um rumo aceita agora chaves alternativas. As portas abertas e as janelas fechadas, o rumo centrífugo do coração. Nem o som das máquinas do tempo, nem os sussurros do passado enquanto a cama absorvia o vermelho do céu quente, importavam. Eram desígnios que serviam como fragmentos de um catálogo. Não tinha filme de nada, apenas uns olhos humedecidos e um caminhar errante. Abri os olhos, não havia parênteses naquele olhar fulminante. As formas das maçãs rosadas das bochechas do Sol iluminavam um ponto mais. Um lugar em que as sombras se desprendiam dos seus respectivos albergues. Era uma rota de olhares suspensos em que amar não seria apenas verbo mas um espaço fluído de intimidade intemporal. A pergunta não teria resposta, apenas se cozia com o futuro, um marco indelével.