11.30.2005

De um momento para o outro....

Tudo, ou quase tudo o que parece poder mudar, muda. Muda sem esperança nem remorsos. Muda simplesmente. E não são só dicotomias. Não só saltos entre polos imaginados. Tudo muda. Sem agravo. Muda, uma profusão de horrores. Uma salada iníqua do inimaginável. Muda a pele, descolora. Caem as árvores, a solidão de morrer fica. Num momento tudo o que é sonho é ainda mais sonhável...entenda-se sofrível. Sofrer sonhando e sonhando sofrer a dor que merece sofrer. Merece, digo eu. Ninguém mais diz. Ninguém a sente, nem o poeta que escreveu neste tom há mil anos atrás. Nem eu, apenas a imagino. Faço dela as minhas velas e deixando os olhos em terra, levo apenas a capacidade de ver...o que não quero ver. O toque, mecânico, esgrimável, deductível na pele. O vento, esse que não pede licença, não compreende. Ondas vermelhas e azuis. Como variam elas sem que se mudem. Mudam-se os cabelos, ficam troncos. Os pés desfazem-se, as pessoas voam. Eu fico. Eu espero, eu vejo...não vejo o que quero ver. O vento está forte. O vento vai mudar de direcção mas não sofismará as escarpas que repousam em duas mãos de barro abandonadas na margem. Tudo muda e muda depressa, sem desesperança. Hoje será o mundo um lugar inabitável, corrosivo, exagerado. É sempre exagerado, e sempre exagerada será a reunião dos seres. Será sempre múltipla, e múltiplas serão as suas queixas e preces. Nem se darão conta que as coisas não mudam. Não. Mudam de mais mas sem mudar. nem se transformam. São gotas de chão que a imaginação caminha. Não existe. Ficou em terra. Ficou....com uma irritante e agustiante dor total!! E repousa. Como uma canção. As notas estremecem o corpo, não dizem nada, não falam, não nos ouvem. São egoístas, assim como as dores de querer mudar a dor. Talvez apenas, sofrimento, mais que dor. Ponho na balança, disco um código e tenho a fórmula. É longe onde ele está. Secalhar não virá...para me ver. Secalhar virá de grandes descobertas, coberto em pesadelos mas com prendas de Outono. E aí a vida será novamente uma mudança longa, como a dos répteis que habitam nos cofres do tempo. Um tempo longo que não parece mudar o mundo. No entanto, não espero mais. Vou lá para fora fazer-lhe companhia. Já mudei demais por escrevê-lo demais. Resta-me dizer-lhe.."estou aqui", não vim para dizer adeus, apenas para dizer que o mar que leva e que por vezes não traz, não é o mar. O mar que tenho aqui nas minhas mãos é o mar em que tu habitas. Não volta, não irá, ficará para sempre. Nada muda e tudo muda. Banal, original? Pergunta-te quando conseguires decifrar que anuências te sugerem as mudanças quando elas não querem saber de ti….apenas florescer para viver, morrer para florescer, morrer para viver. Sim, também é verdade, ninguém foi mas também ninguém ficou em excesso. Nada muda, nada muda e muda tudo.

11.27.2005

Exotopia


Fico chateado quando a fluidez das imagens é perturbada na sua sincronicidade. Que barulho! Sinto-te que me estás a ler. Sinto-te com os teus sentimentos a retirar-me elos do pensamento. Estás a roubar-me a paz, sabes? Estás a chatear-me com o teu sentimento maior de luminosidade, a consciência, de que apesar de me estares a invadir estás a alimentar-me para te poderes ler comigo. Assisto sem rancor à vandalização dos conteúdos da minha memória. Estudo semiológico. Seu semideus, que sismos me provocas? Abandono-me mas tu não me abandonas. Segues-me e com um pouco de identidade mostras-te quase a descoberto. Mostras-me as narrativas que gostavas que eu tivesse criado quando tu dialogavas o teu rosto. Dei-te voz quando a procuravas e dei-te a forma quando procuravas declarações. Volto agora a mim. Deixo-te de lado ou julgo deixar. Mas não quero saber que estás aqui. Não posso crer que me sugas o que ainda não te dei a sugar. Não posso crer como me transformaste as memórias, fazendo lembrar-me daquilo que não guardei. Diria que me vilipendias. Diria que te vilipendias. Diria que se não estivesses já na tua voz aquilo que a minha voz vai confirmar, poderíamos ser dois. Por enquanto vamos ser um. Se me contradigo? O que achas? Não contenho multidões mas contenho as tuas multidões que me seguram com cordas bem fortes quando escorrego da minha posição. Felizmente estás lá para não me dar sentido e por isso fornecer-me a coerência.

11.25.2005

Quero conhecer-te! Vamos caminhar...

Se eu não te tivesse conhecido, a dor de não te conhecer seria a flor do desejo de te conhecer. Seria fingir que não te conhecia porque sensual seria a tua estranheza. Porto de sonhos. Serias a difusão do sonho imperturbável. A dor de não te conhecer seria como que engolir as estações, substituindo-as pela ânsia de te conhecer. Conhecer-te é então um pouco como a alegria de te explorar ao longo do beijo infinito insofismável. Esquecer-te agora seria adoecer a dor de não te conhecer e com isso adoecer a vida que em mim te procuraria e a vida que em mim não te procuraria. Seria morreres na concepção, seria eu morto na concepção do amor como insubstituível do teu olhar, do nada preenchido pelo teu traço que desenha o caminho do todo que nos cria. Não te conhecer seria adoecer menos do que esquecer-te mas não seria nada mais do que procurar-te. Procurar-te. Vamos lá então. Vamos caminhar.

11.18.2005

Neve...redundâncias precisas


Deu-me vontade de escrever sobre a neve mas se foi vontade, foi repentina. Toda a gente sabe que a neve é branca, não é? Mas muitas pessoas não sabem o que é tocar em pequenos flocos de neve ou vê-los a cair por cima dos nossos olhos, suavemente ordenados, como que em filinhas para entrar no autocarro. A neve é branca, isso todos sabem. É fofinha e possui uma beleza natural deliciosa. Quando cai encobre o terreno com uma camada clara que aos olhos de seres racionais parece ser de pureza. Cá para mim eu acho que a neve é produto de alguma invenção mais cuidada de meia dúzia de anjos poetas. Por vezes a neve vem abraçada com a chuva. Molha após uns segundos de contacto. Os meninos anjos têm um sentido de humor muito requintado, aliás esta é uma característica presente em todos os seres sobrenaturais. Quando lhes apetece brincar com o teatro de que fazemos parte, mandam-nos neve grossa, com quilos de espessura e com cores várias que só se conseguem ver quando atravessadas pelo arco-íris. Depois é só ver as pessoas a tentarem arrumar a neve para um qualquer sitio enquanto que lá de cima se ouvem lábios de uma cor linda, um misto de vermelho e de branco puro, a sorrir as emoções do último espectáculo transmitido em primeira mão. As casas herdam a fantasia, transformam-se em autênticos portos seguros e calorosos mesmo quando lá dentro não haja nada mais do que gelo. De fora digo eu. Mas é verdade, tudo fica com uma beleza tão singular que nos arrebita a pupila num exercício visual difícil de apreensão total. E viva a neve! A neve voa, a neve conhece-nos, a neve vem e vai, como um menino inseguro. A neve sente-se sempre viva, em toda a vez que cai. A neve é muito fria. Tenho quase a certeza que as pessoas que vivem a neve como tecto de suas casas, que trabalham e gelam o seu corpo na sua frieza, que caminham descalças de corações, não podem chorar. Será que as lágrimas congelam na sua face? E será que os olhos claros choram lágrimas claras? Intriga-me. As pessoas que vivem sem calor, será que essas conseguem captar a beleza proveniente da neve, ou será que o sentimento de desconforto não lhes permite sequer admitir que tal beleza natural pode doer tanto? É uma questão de saber o que está e como está arrumado nas prateleiras da estruturação mental. E os velhinhos abandonados? Será que esses seres entardecidos por um Sol em tons finais, possuem olhares visíveis para perceber que pelo menos a neve é bela? Eu acredito que se consegue ouvir a delicadeza da neve a cair. Eu ouço Amor. Nunca ouviste? O Amor ouve-se como a neve. Cai delicadamente no meu corpo e transforma-se em vida cada vez que me toca como se eu estivesse totalmente potencializado em Amor. O Amor ouve-se com os olhos, com os ouvidos, com a pele, com todas as partes que quisermos ouvir. E ouve-se bem! Muitas vezes o ruído de fundo interrompe o deslizamento e até podia ser por falta de concentração mas não é. Desconcentro-me completamente, relaxo o meu ser em mim, aberto só por uma única mão, e nesse encanto consigo ouvir bem o Amor que se espelha nos meus olhos com palavras da tua alma. A tua assinatura passa em rodapé. E sei que a neve cai lá fora e é bela. Sei que estou embrulhado no teu Amor e sei também que existimos. Mas toda a gente sabe que a neve é branca, não é?

11.16.2005

Tens muitas letras!


Três lírios e três rosas. Três momentos eternos. Três vidas. Horrores, amores. Três princesas, príncipes. Montanhas altas, louvores. Dor aguda. Sufoco. Vento. Voz lavada. Cara desenhada. Mão dada. Três dias e três noites, três filhos e três filhas. Três reis e três rainhas. Grãos de areia. Pegadas. Vidas, muitas! Pessoas, almas, alamedas! Terra, relva, raízes! Coloridas. O Sol. A luz aí dentro. O branco. Amor. Tu. Voar. De mão dada. Lágrimas. Asas. Sangue. Abraço. Renascer. Voar, voar! Amor, amor, amor!

Observar.....-te-nos-....-sim.

11.07.2005

Quero amar-te!


És assim de um tom rosado que faz lembrar os carris do tempo. Um tom polifónico que vibra a tua alteridade. Um tom imortal da forma que desliza como gota de água em rosa polida. Tenro magma borbulha nos teus pés. Obras de arte em tons tácteis. Ilhas de chuva em cada poro, tens na pele um mundo novo entre dois mundos. Mundos que não existem para lá de ti. És de um tom que se esquece assim como o ronronar dos segundos da tua bomba rosada. Esquece-se a regularidade para fluir nela, para recordar o futuro. O futuro é memória. Um portal do tempo que tem o teu pulsar mas que não te mostra. O que tu és viaja a milhões de vida por carril. Combustível ecológico? Amor que faz rosar, passear em camera lenta os detalhes simples, simples de mais numa identidade maior que o detalhe.
Apetece-me amar-te, ouvir a tua nudez emocional no ricochete dos teus silêncios! Voar no mundo invisível do ar que respiramos. Passa a ser nosso. As portas invisíveis que vamos abrindo, sulcando caminhos cruzados. Bem cruzados. Usei o teu sentido de vida, apaixonei-me pela tua vida, pela tua existência. Porque és alguém que não passou ao lado. Escolhemo-nos constantemente. Gosto de pegar na tua mão, abrir a porta e sugar o ar todo que nos envolve, levar-te no meu tapete íntegro para além do som do coração. Ir para além de nós e no entanto não passar da nossa Alma. A minha mente reluz no cimo do momento em que os olhos brilham e nada mais no mundo vale tanto. Sempre. É sentir existir o que de ti deste e o que de mim dei. O que demos ao mundo, não só ao Mundo total como ao Mundo dos nossos sentimentos. Elaborado de afectos e no entanto límpidos como olhos que choram pela primeira vez. Prometo à sublime energia que nos explode e no entanto nos une, íntegra, que me quero nu em ti. Massa bruta. Cru, sincero, límpido, de modo que quando olhares para mim vejas o que vem nos meus olhos, o que eles falam, o quanto te Amam quando a tua retina encolhe e o Amor penetra na tua aurora, no teu mundo interior, da vida que em ti habita. Quero correr contigo na imensidão, colher rosas vermelhas no deserto, beber das lágrimas das ninfas, mastigar gotas de orvalho, mergulhar no oceano, difundir-me nos teus braços galopantes. Quero pintar-te sobre o papel químico dos sentidos. Caminhar, correr, voar, parar, seguir, parar, viver, abraçar-te debaixo do céu. Permanecer na nossa bola de sabão. Caminhar na praia, na areia rugosa, os poros suados das pedras, o mar em contrastes apaixonados com a areia, beijando os desenhos, o deslizar dos mundos, as lágrimas do mar, o silêncio imperturbável. Juntos, a nudez da vida. Não haverá conclusões. Quero amar-te!