1.03.2008

Menos Humanos do que Humanos

Somos estranhos. Somos espontâneos e fluídos. Espontâneos porque a nossa existência impele-nos a inovar a cada momento; fluídos porque existe um contínuo de organização da existência individual, incessante e incontrolável. É a fluência da existência. E somos menos tempo espontâneos do que fluídos. A nossa vida organiza-se tacitamente, sendo o nosso organismo o principal organizador da nossa relação com a vida, incluindo-se nesta relação todas as expressões de vida. Esta organização constante e adaptada à vida idiossincrática, permite-nos existir. Todavia, muitas vezes somos mais espontâneos do que fluídos. Isto acontece quando utilizamos o nosso organismo como chefe de uma existência. Planeamos, inventamos, organizamos, dialogamos. Temos o poder de alterar a vida de forma incisiva e tremulamente controlável. Escrevemos texto, pensamos no que deverá ser escrito e naquilo que não faz sentido escrever. Construímos. No entanto, ao mesmo tempo, somos um curso incessante de fluência de vida. Inevitável, incontrolável, sustentável. A vida flui e, retrospectivamente, olhamos para aquilo que foi feito e perguntamos: "porquê? porquê assim? porque fiz isto assim?". Desviamos a cara de um rosto amargo, fixamos o olhar numa paisagem inefável. Fluímos. Não reconhecemos o pensamento sobre algo. Nessas alturas somos Humanos, na nossa mais primitiva expressão, e menos Humanos na nossa conceptualização moderna e racional de ser Humano, de existir.

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