3.17.2011

A inversão da racionalidade

Neste momento na sociedade portuguesa tudo parece estar programado para se considerar que a vitória do país é atingir um deficit de 4.6% no final de 2011 e de 3% em 2012, se não estou enganado. Leram bem? Ok, continuemos.

O que estou a dizer é que o governo está a (pretender?) ser avaliado apenas pelo cumprimento de metas do deficit, sendo que vários objectivos orçamentais do passado recente não foram alcançados. Sim, são metas importantes e é urgente reformular o funcionamento do país.

Mas...

Será que uma sociedade só tem que exigir aos seus governantes que ponham as contas do estado em ordem? Não existirão outras questões importantes na governação? Não se deverão exigir resultados objectivos e assunção de responsabilidades na gestão eficiente das áreas da administração central, educação, saúde, justiça ou nas condições que fomentem o crescimento económico?

Não se deverá exigir que o Ministro da Justiça se demita por a mulher ter recebido dinheiro indevidamente, de acordo com as instâncias da justiça?

Não se deverá exigir que o deputado Ricardo Rodrigues do PS seja posto fora do parlamento por ter "fanado" os gravadores dos jornalistas da revista Sábado? O mesmo que está presente no conselho do Ministério Público por nomeação da Assembleia da República...

Não se deverá exigir que o Ministro da Administração Interna saia por ter sido incapaz de gerir a questão dos nºs de eleitor nas últimas eleições?

Para não falar de Sócrates e as suas licenciaturas ao domingo...

Será que as pessoas têm que se deixar enganar pela afirmação do Ministro das Finanças relativamente ao TGV? Será que temos que admitir que o TGV seja feito mesmo que a economia não tenho acesso a financiamento? Será que temos que aceitar colocar fundos na construção de um comboio, deixando que as empresas, de todas as dimensões, se vejam privadas de financiamento para fazerem crescer a economia? Será que temos que aceitar isto?

Será que ninguém se indigna perante o tom messiânico de Sócrates quando fala da sua acção como primeiro ministro?

Será que ninguém se zanga com o congelamento das reformas mais baixas dos nossos velhos (nossos pais e nossos avós, enfim, pessoas)?

Será que ninguém assume responsabilidade neste país, será que ninguém se demite, que tudo se deve aceitar, como diz Pedro Santos Guerreiro no seu último editorial?

Que país é este? Que sociedade é esta que come tudo e cala, sem reflectir sobre os assuntos, sobre o SEU FUTURO?

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