3.22.2011

Democracia em Portugal

Portugal é um lugar bastante estranho. Por diversas referi que é um lugar com características esquizofrénicas. Basta alguma distância, como por exemplo umas semanas fora de Portugal, para perceber que, de facto, há algo estrutural nesta sociedade que não funciona como deveria funcionar.

Portugal é uma democracia perfeita, de acordo com aquilo que é referido no Índice de Democracia. Curiosamente, de acordo com este Índice, França é uma democracia imperfeita, atrás de Cabo Verde. Adiante.



Vem a isto a propósito do desespero que grassa em Portugal sobre o momento político em que se vive. Dizem alguns que esta é uma péssima altura para acontecerem eleições. É verdade. Contudo, a Democracia é uma viagem sem paragens obrigatórias. Cabe aos homens que nela participam avaliar o que é melhor para o país, tendo em conta a responsabilidade que a Democracia lhes exige.

Dado que vivemos numa Democracia indirecta, temos que aceitar que os partidos políticos possam tomar decisões como aquela que o PSD tomou, i.e., não aceitamos que o actual governo continue a governar, dada a sua manifesta incompetência para gerir o país. Por outro lado, o governo tem o direito de referir nós temos direito a governar porque tivemos uma maioria relativa, confiada pelo povo e temos um óptimo desempenho para vos mostrar. Se a primeira parte é correcta, a última não.

De facto, no país em que ninguém se demite, tudo se admite (crédito ao PSG, Jornal de Negócios), exigir que alguém se demita por ter sido sistematicamente incompetente parece ser criminoso. Obviamente que me dirão que esta ocasião é especial. Verdade. Mas não será a Democracia Portuguesa algo especial? Não será que o governo errou de forma clamorosa ao longo dos últimos anos? Não será que teve a sua oportunidade (6 anos) para nos transmitir uma visão aliciante e resultados efectivos da gestão de Portugal? Não será que lhe foram dadas as condições possíveis e suficientes para ultrapassar os últimos 3 anos? Contudo, pouco conseguiu.

Um trabalhador pode e deve ser despedido se fizer um mau trabalho, certo? E será despedido quer esteja com problemas graves ou no momento mais feliz da sua vida. Porque não poderá o governo ter o mesmo julgamento? Será o governo mais importante que a Democracia?

A hecatombe portuguesa prevista por vários comentadores e antigos responsáveis políticos de Portugal, leva-me a pensar que a sociedade portuguesa ainda não tem a maturidade suficiente para se focar na resolução dos problemas do país. Prefere uma Democracia medrosa, cristalizada naquilo que dá jeito que seja em determinado momento, em vez de se focar na responsabilização dos seus cidadãos (partidos, governos, e outros) nos processos e resultados que a sociedade lhes exige: uma vida melhor para todos.

Salvaguardadas todas as formalidades - o mais interessante de tudo é que a Democracia não pede licença, ela é; não pede desculpa, exige; não comanda, implica; não se amedronta, prevalece.

Portugal tem um grave problema: os seus cidadãos não se conseguem organizar convenientemente de modo a produzir o país que anseiam, que desejam mas não conseguem concretizar. Demasiado fracos, demasiado esquecidos. Governados pela memória, esqueceram-me dos princípios e dos valores, sonham com os talheres de ouro na mão mas não têm nada mais para comer do que pão rijo.

É na Democracia que os homens fazem o seu melhor; será com os homens que ela melhorará.

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