5.31.2009

Somos um ou 100 mil?

Reprodução do texto de Gonçalo M. Tavares que foi lido na revista Cais nº 140.

Enjoy!

“ - O que estás a fazer? – perguntou a minha mulher quando me viu, contra o que é costume, demorar diante do espelho.

- Nada – respondi, estou a olhar para o meu nariz, para esta narina. Ao carregar sinto uma dorzinha.

A minha mulher sorriu e disse:

- Pensava que estivesses a ver para que lado te descai.

Voltei-me como um cão a quem tivessem pisado a cauda.

- Descai? O meu nariz?

E a minha mulher, placidamente:

- Claro, querido. Olha bem para ele; descai-te para a direita.

Tinha vinte e oito anos e, até então, sempre considerara o meu nariz se não propriamente belo, pelo menos era muito decente, como todas as outras partes da minha pessoa.”

Luigi Pirandello, Um, Ninguém e Cem Mil

   

Como este começo intrigante (intitulado “A minha mulher e o meu nariz”"), Pirandello inicia as hostilidades em relação à ideia de que há apenas uma auto-imagem única, apaziguadora. É que todos pensamos só ter uma identidade que, muitas vezes, confundimos até com o próprio nome. Porém, a identidade é bem mais complexa do que isso.

Moscarda, o protagonista deste romance, que descobriu ter o nariz descaído, mudou a partir desta descoberta. Eis, pois, a principal conclusão da personagem Moscarda, após essa consciência de si, súbita consciência que lhe chegou por intermédio, digamos, do nariz: “Para os outros eu não era aquele que, para mim, tinha até então julgado ser”.

Por norma há esta confusão. As pessoas pensam “eu sou como me vejo. Mas na verdade há os outros. Os que nos vêem”.

Construção

“Ah, você pensa que só se constrói as casas?”, exclama Moscarda. “Eu construo-me continuamente e construo-o a si, e você faz a mesma coisa”.

E é nesta construção infinita de imagens que surgem, então, cem mil Moscarda, tantos quantos os que o viam e construíam uma determinada imagem que se baseava nas experiências que com ele tinha partilhado.

Façamos as contas de forma clara. Quando Moscarda se junta a Dida e a Quatorzo, dois amigos, o somatório não era três. Ali não estavam, de facto, apenas três pessoas, pensa Moscarda. Estavam três Didas, por exemplo:

“ 1) Dida, como era para si própria;

  2) Dida, como era para mim;

  3) Dida, como era para Quatorzo”

Naquela sala de estar estavam, fazendo bem as contas, não três pessoas, mas sim nove. Três vezes três.

 

Quantos sou?

A identidade pode, assim, ser definida como uma partilha de experiências entre duas pessoas, ou seja: a identidade não depende apenas de quem é identificado, mas também de quem identifica. Neste sentido, não se poderia- ou não se deveria – falar de identidade individual, mas sim de uma identidade definida por um par: observador, observado. É o Outro que me dá a Identidade.

 

Roubo e infidelidade

Esta sensação de que se é “um, ninguém e cem mil”, leva Moscarda a ultrapassar vários limites. Eis um exemplo: pega em papéis que são seus com a sensação de que os está a roubar ao anterior Moscarda, o homem que ele era antes. E o “antes” significa: no tempo em que não tinha a consciência de que era muitos e não apenas um só.

Eis outro limite ultrapassado: sente ciúmes, sente-se mesmo enganado pela sua mulher quando ele, ele próprio, a beija. E isto porque, raciocina Moscarda, a mulher beija o Moscarda que vê, que construiu na sua cabeça, enquanto ele, Moscarda, para si próprio é outro. A sua construção, a construção da sua própria imagem, nada se assemelha à construção que a sua mulher fez. Ela não me ama, pensa Moscarda, ela ama a imagem que tem de mim.

Portanto, Moscarda acusará a mulher de estar a ser-lhe infiel no preciso momento em que ela o beija. Está a beijar a imagem que tem dele, não está a beijá-lo.

Eis, pois, o ultrapassar de uma certa loucura. Ou, afinal, de uma certa lucidez.

Não esqueçamos: o espelho engana; não somos um, somos cem mil.

Ao ler este texto lembrei-me de Wal Whitman, Fernando Pessoa e de todos aqueles que falam sobre o Self Dialógico…Devo dizer que a arte segue sempre à frente da ciência.

Não concordo com tudo o que está escrito neste texto, mas ele é, sem dúvida, um hino muito singelo à Identidade. 

Incrível, não é?

5.26.2009

Bolhas de autoritarismo

Uma sociedade democrática distingue-se de uma sociedade ditatorial através de um factor muito curioso, que passo a tentar explicar. A existência de indivíduos ou grupos que operam de acordo com matrizes repletas de comportamentos ditatoriais são, nas democracias, arranjos florais dispersos e circunscritos. A sua acção é reflectida nos outros sistemas mas como é vista sob a perspectiva “desta coisa que é a democracia”, reveste-se de outro significado. O contexto social não lhe valida os comportamentos que noutras situações seria abominável. Assim, parece apenas “normalmente” desviante.

Esses grupos ou indivíduos agem encobertos pela mediocridade e comezinha vontade de subir nas escadas do poder, de subjugar os outros à sua fortaleza de penas. Exercendo miríades de atitudes e comportamentos cheios de basófia, protegidos com uma aurélola de pseudo-respeito, amarrados à inocência de burocrata, eles são, aparantemente e paradoxalmente, muitas vezes considerados exemplos da vitalidade da democracia.

A democracia existe quando o respeito pelo outro abunda e se generaliza na sociedade. Mantem-se quando a lei impõe aquilo que já foi negociado como sendo praxis desse respeito. Rejubila quando aceita, compreende e pune todas as bolhas de autoritarismo. Enfraquece-se quando se verifica que o respeito ficou lá atrás, nos antípodas da empatia.

Há muitas por aí. 

5.21.2009

Vila Real – green is my color

On 20/05/09

 

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Who said that a portuguese city couldn’t be green? Lovely scenery!

5.17.2009

Johnny solo and Johnny and Nala

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Ria de Aveiro – 17/05/2009

Só um cheirinho.

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Tu

Quem és tu? Imaginem uma pessoa com quem têm uma relação muito próxima, um filho, um irmão, uma mãe. Alguma vez pararam e deram-se conta de estar a olhar para “algo”, “alguém”, com uma multiplicidade imensa de vida? Não apenas olhar. Sentir a totalidade de alguém coloca-nos num ponto em que questionamos a realidade. O que é isto? Como és tu tão imenso(a), tão cheio(a) de vida, tão diferente de mim, tão próximo(a) de mim, tão único(a)?

Como é possível apreender-te totalmente? O que é existe entre nós para termos uma relação tão íntima? Como és diferente de mim…

E tudo isto enquanto te dispersas nas actividades corriqueiras da rotina..Mas eu escuto-te de todas as maneiras possíveis, pensando em ti enquanto tu pensas na inebriante fluidez da acção. O teu cabelo, a tua pele, a tua altura, a maneira como caminhas, como respondes directamente e indirectamente às minhas interpelações perceptivas, o teu passado, o que eu espero de ti daí a umas horas, o teu sorriso e as tuas angústias. Escrevo-te numa pedra basilar, com códigos que se encadeiam e me transmitem uma sensação de novidade. Mesmo contigo.

Uma imensidão insofismável, que nos causa estupefacção. Afinal de contas, quem és tu, como és tu, como foste, quem irás ser? Ouves-me? Também sentes isto?

A um irmão, a um pai, a uma mãe, a uma namorada, a um amigo, a um animal amigo. Quem és tu enquanto eu sou eu a sentir-te?

5.15.2009

E a luta continua…Combustível Low Cost vs High Cost

Lowcostfuel

Imagem retirada do fórum autohoje.

E parece que ninguém se decide sobre as atoardas que trocam. Precisamos de fundamentos claros para criticar e isso não está a acontecer. Parece uma guerra de dementes!

Eu cá continuarei a encher o depósito com os combustíveis lowcost, para manter uma certa harmonia com os ordenados…lowcost.

5.14.2009

Wolfram Alpha

Watch out the new dog!

…Wolfram Alpha is not a search engine.

In a talk at Harvard Law School, Stephen Wolfram, a well-known mathematician, scientist and entrepreneur, gave a demonstration of his soon-to-be released Web service which promises to answer all sorts of questions. The service, called Wolfram Alpha, had technology bloggers abuzz that a rival to Google was about to hit the Web.

While search engines like Google, by and large, find things that already exist on the Internet — Web sites, photos, videos, blogs — Wolfram Alpha answers questions, often by doing complex, and new computations.

It’s hard to judge a product from a demo, but by the looks of it, Wolfram Alpha is impressive…

Read the rest here. Also check here, here, here and here. Uf! :P

YouTube video here.

5.13.2009

Microsoft’s home of the future

Be afraid, very afraid…ehehe

Honestly, I fear that all this technology will make us “less” humans, since creativity and inspiration, memory and thinking, will be putted to second place, given that it will require an automatic and robotic response from humans. We have to weight the pros and cons and the balance between Humanity and Technology if we want to pursue the development of the current paradigm. Or, if we want to jump to other mind sets and mind fields, we better make sense of what will happen and it’s consequences on mankind, in an intelligible way. 

See it here.

LIVING OUTSIDE THE BOX: NEW EVIDENCE SHOWS GOING ABROAD LINKED TO CREATIVITY

Sounds interesting.

4/29/2009-

by APA

Living in another country can be a cherished experience, but new research suggests it might also help expand minds. This research, published by the American Psychological Association, is the first of its kind to look at the link between living abroad and creativity.

“Gaining experience in foreign cultures has long been a classic prescription for artists interested in stimulating their imaginations or honing their crafts. But does living abroad actually make people more creative?” asks the study's lead author, William Maddux, PhD, an assistant professor of organizational behavior at INSEAD, a business school with campuses in France and Singapore. “It's a longstanding question that we feel we've been able to begin answering through this research.”

Maddux and Adam Galinsky, PhD, from the Kellogg School of Management at Northwestern University, conducted five studies to test the idea that living abroad and creativity are linked. The findings appear in the May issue of the Journal of Personality and Social Psychology, published by the American Psychological Association.

In one study, master of business administration students at the Kellogg School were asked to solve the Duncker candle problem, a classic test of creative insight. In this problem, individuals are presented with three objects on a table placed next to a cardboard wall: a candle, a pack of matches and a box of tacks. The task is to attach the candle to the wall so that the candle burns properly and does not drip wax on the table or the floor. The correct solution involves using the box of tacks as a candleholder – one should empty the box of tacks and then tack it to the wall placing the candle inside.

The solution is considered a measure of creative insight because it involves the ability to see objects as performing different functions from what is typical (i.e., the box is not just for the tacks but can also be used as a stand). The results showed that the longer students had spent living abroad, the more likely they were to come up with the creative solution.

In another study, also involving Kellogg School MBA students, the researchers used a mock negotiation test involving the sale of a gas station. In this negotiation, a deal based solely on sale price was impossible because the minimum price the seller was willing to accept was higher than the buyer's maximum. However, because the two parties' underlying interests were compatible, a deal could be reached only through a creative agreement that satisfied both parties' interests.

Here again, negotiators with experience living abroad were more likely to reach a deal that demanded creative insight. In both studies, time spent traveling abroad did not matter; only living abroad was related to creativity.

Maddux and Galinsky then ran a follow-up study to see why living abroad was related to creativity. With a group of MBA students at INSEAD in France, they found that the more students had adapted themselves to the foreign cultures when they lived abroad, the more likely they were to solve the Duncker candle task.

“This shows us that there is some sort of psychological transformation that needs to occur when people are living in a foreign country in order to enhance creativity. This may happen when people work to adapt themselves to a new culture,” said Galinsky.

Although these studies show a strong relationship between living abroad and creativity, they do not prove that living abroad and adapting to a new culture actually cause people to be more creative. “We just couldn't randomly assign people to live abroad while others stay in their own country,” said Maddux.

To help get at this question of what causes someone to be creative, the authors tried a technique called “priming.” In two experiments, they asked groups of undergraduate students at the Sorbonne in Paris to recall and write about a time they had lived abroad or adapted to a new culture; other groups were asked to write about other experiences, such as going to the supermarket, learning a new sport or simply observing but not adapting to a new culture.

The results showed that priming students to mentally recreate their past experiences living abroad or adapting to a new culture caused students, at least temporarily, to be more creative. For example, these students drew space aliens and solved word games more creatively than students primed to recall other experiences.

“This research may have something to say about the increasing impact of globalization on the world, a fact that has been hammered home by the recent financial crisis,” said Maddux. “Knowing that experiences abroad are critical for creative output makes study abroad programs and job assignments in other countries that much more important, especially for people and companies that put a premium on creativity and innovation to stay competitive.”

Article: "Cultural Borders and Mental Barriers: The Relationship Between Living Abroad and Creativity,” William W. Maddux, PhD, INSEAD; Adam D. Galinsky, PhD, Kellogg School of Management at Northwestern University; Journal of Personality and Social Psychology, Vol. 96, No. 5.

Ontario sets the parade

Change the World 2009 was a brilliant plan to make young people active in their participation in their 20 local communities through volunteering actions. It had the objective of gathering 10 000 Ontario youth volunteering for five hours during the National Volunteer Week, April 19-25, 2009.

I think this kind of governmental actions are very important because they focus on sustainable communities, creating stronger bonds between people and institutions. It fights social problems like poverty and it helps creating better people.

The example was set. Who wants to join them?

5.10.2009

Eu sou

…o teu olhar misterioso; o carpinteiro que cria arte apartir de fumo;

…pensamentos que nunca são meus mas que nunca deixaram de ser meus;

…nada comparado com todos vós e especial comparado contigo; talvez tão especial como todos nós;

…múltiplo de várias combinações literais e metafóricas;

…tu, quando nos entrelaçamos, mesmo em milhares de tons, sons e imagens;

…imortal quando deixo a minha pegada na terra; nada me esquece quando quero perpetuar relações;

…transparente, como notas nestas letras trémulas, em que tinta escorre e dos dedos doem, esfomeados por me escrever, como se eu fosse passageiro;

…passageiro; passageiro;

…contradições bamboleantes, que jorram linearidade…

…algo que eu nunca saberei decifrar, uma enormidade complexa que me desafia a ver de noite;

…neste momento, neste segundo que virá a seguir a esta letra A, um passado que ainda agora foi futuro, alguém que já não existe;

..não existo para mim no passado e a minha memória são tempos futuros.

Decadência

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Biblioteca de Ovar, Portugal (não, não é na Roménia! Não tenho nada contra a Roménia…)

 

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Arte a céu aberto…Comments? Estão lá há anos…Um espectáculo…

Animal Johnny

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English vs Português

Why do I sometimes escrevo inglês neste blog?

Eu explain.

1- I tenho friends and família que só read em english;

2- It allows me to treinar a escrita em english;

3- It depende da minha mood;

4- What’s wrong com isso? Mesmo que I have spelling errors, what’s the problema?

5- This is very estranho, isn’t it?

6- :)

5.05.2009

To a child dancing in the wind

“Dance there upon the shore;

What need have you to care

For wind or water’s roar?

And tumble out your hair

That the salt drops have wet;

Being young you have not known

The fool’s triumph, nor yet

Love lost as soon as won,

Nor the best labourer dead

And all the sheaves to bind.

What need have you to dread

The monstrous crying of the wind?”

W.B. Yeats

Boredom

I’m bored. Why? Because my political appetite is ill. I only see artificial movements of Portuguese politicians which are only interested in creating little worlds where important things doesn’t go. And this makes me bored. Very bored. Exhausted by this state of collective indifference, with a violent smell of rotten minds.

It smells very bad. I need to wash my thoughts. 

One of the best cities in Canada

Kingston, Ontario, has been ranked as the 3rd best place to live in Canada, according to MoneySense.ca. I’ve been there several times before and I have to say that I am very surprised. It’s not because I think Kingston doesn’t deserve it but Canada has so much nice cities that I thought that it would be hard to qualify in such a great position! But here you have it! I’m knocked out!

Great job Kingston community! :)