Muitas vezes pensa-se que o problema de Portugal é económico e/ou financeiro. Na minha opinião, nada mais longe da verdade. Isso são apenas consequências.
A raiz do problema de Portugal somos nós enquanto sociedade. Simplesmente não conseguimos produzir uma sociedade vigorosa, educada, culta, humilde, realista e orientada para o futuro.
Há um ponto, entre estes, que considero mais importante do que os outros, que orbita em torno da educação. Não é um problema formal de educação mas talvez de civismo. Muitas vezes comparamos rankings mas esquecemo-nos de refletir sobre o facto do problema não ter só a ver com a escola. Antes, a corrente de opinião, o giz que guia a sociedade há várias décadas, está cristalizado, negativamente cristalizado.
E não, não estou a falar de portugueses burros ou inteligentes, ricos ou pobres, como tantos gostam de caracterizar, mas antes da verborreia que tantos os professores universitários, advogados, médicos e afins, como o Zé das biscas de Travanca, partilham.
É um toque fino de desprezo pelo outro, um horrível desejo de antagonismo, uma imperiosa necessidade de caos, uma eterna discussão etérea sobre minudências, um grosseiro desprezo por quem atinge legitimamente riqueza, um acéfalo benzer as hostes partidárias, uma atroz falta de estratégia e de união, um jogo de matraquilhos diário. Reparem, poderia ter descrito um jogo de futebol...
Este giz que passa por todos os grupos da sociedade, de forma mais ou menos vincada, é um cancro que nos destrói completamente.
Portugal continua o jogo do campeonato de atrocidades auto infligidas, veiculadas de telejornal em telejornal, transmitido até à exaustão. Passo a passo na contínua martirização.
Afinal de contas, será possível imaginar o que seria de Portugal se tivesse uma população que realmente valorizasse o mérito, que fosse respeitante e tolerante e ao mesmo tremendamente exigente? Que se unisse em torno de uma perceção inspiradora de si própria? E existirão líderes que possam desencadear a transição, políticos e não políticos?
Acredito que os primeiros passos estão a ser dados, não pelos políticos mas por pessoas que começam a ver o país fora do vasilhame difuso das narrativas dominantes.
No entanto, os cortes, as feridas são tantas e tão fortes! A disparidade de rendimentos; o conflito matricial entre interior e litoral, Norte e Centro/Sul pobres e ricos, comunistas/bloquistas e uma visão razoável do futuro; uma comunicação social na cama com a política, num novelo de esquizofrenia paranóide; o populismo de quem vê no dinheiro algo sujo que pertence aos maus ou aqueles que vêm o dinheiro como a magia dos magos, enfim, um rol infinito de paradoxos e conflitos em eterna ebulição e dos quais não sai um compromisso.
Chego a um ponto lateral e que tentarei abordar noutra ocasião. Será que viver fora permitirá uma análise mais completa do que impede Portugal de se transformar?
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