Todos nós sabemos que as palermices existem às dúzias e que são mais baratas que as de ovos. São tão baratinhas que se dão ao luxo de aparecer disseminadas por tudo o que é canto, rebordo, televisão, jornal, ou boca.
E há uma que me irrita solenemente e que diz respeito à utilização de títulos académicos para significar alguém. Não é que tenha algum problema em que as pessoas tenham títulos académicos! Nem por sombras! Também investi muito dinheiro para os ter, por isso passemos à frente da palermice de quem afirma que "se o tenho, é para o utilizar".
Só não acho que um título académico se incorpore por baixo da derme e que, à mínima abordagem, se exiba na testa de cada pessoa e pisque os olhos de mansinho a exprimir um "anda lá, diz-me...".
Economista, Advogado, Engenheiro, Professor.
Dr, Dra.
Eles andam nos cartões de crédito, bem acomodados para que as pessoas olhem e sintam "ah! Que dia de %%#$! Ao menos sou um Dr. e ali o palermóide das bombas de combustível terá que me olhar debaixo daquele paralelo ali no chão quando colocar combustível aqui no meu xpto versão 15". É claro que pode ser muito mais subliminar que esta palermice que escrevi. Mas surge mais ou menos assim num panorama emocional virtuoso.
Faz-me uma inauguração num Vila de Portugal. "O Presidente da Junta não tem título académico. Apre!" - Pensa o Presidente da Câmara e os restantes dignitários dessa bênção. "O palermóide não pode falar! Nem saberá o que dizer!" - pensa juntamente com a sua equipa.
E assim se joga a divisão para reinar. "Xô xonecas!"
Adiante. É certo que muitas pessoas passam à frente dessas designações e não se esquecem que elas existem para além dos vincos de poder que gostam de exercer sobre os demais, formados mais novos ou outros sem formação.
E como as pessoas sem títulos académicos gostariam de ter um! Ah! Que bonito! Que bom que é dizer "o Dr. cvbn disse-me que...". Ahhhhh! Tão perto do poder, da sabedoria, da distinção! Mnham!
"Ao telefone de Londres, um português retido no aeroporto de Heathrow...". No canto superior do ecrã surge..."Nome da pessoa, Economista". Imaginem que era Soldador. Também apareceria lá? E se fosse Canalizador?
Não, pois não? Pois, também acho.
É uma grande palermice esta mania portuguesa, depositária de uma cultura centrada no respeitinho (não Respeito). Mas alto lá! Isto é apenas uma consequência antiga que virou causa recente. Se antes foi apenas a consequência de uma divisão de classes (ups...comunistas com K, ponham-se a milhas! Estou a falar a sério!) para os de lá de cima reinarem. Basta olhar para a sociedade portuguesa para perceber que é verdade. Virou causa quando foi introduzida para continuar a dividir, para sugerir que o respeitinho bacoco e palermóide deverá perpetuar-se.
Acreditem, só agora no fim é que me lembrei do Engenheiro Sócrates. Hum..já não tem piada. Adiante.
Alguém: "Dr. Ricardo, vai utilizar a sala ao lado do gabinete?"
Eu: "Não..."
Alguém: interrompendo-me.."Ok."
Eu: "Não, sou Ricardo".
Alguém: "ah.."
Pois é. Ganhem juízo!
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