12.13.2007
Papel
Quando escrevemos reescrevemos uma imagem de nós. Ou melhor, somos outros aos olhos dos outros, e somos os mesmos no nosso Alter. Quando escrevemos anulamos um pouco do diálogo, seja por ele já ter acontecido e a escrita ser um produto, ou porque o diálogo precisa de vozes em sintonia para se imprimir na escrita. Todavia, isto está tudo errado. Não me vês a dialogar neste preciso momento? Pois, como pensei também nisso! Mas é verdade que me engano. Engano-me porque escrevo o produto de um processo interminável que se espera calmo e fluente. Quantas horas perdemos a ouvir-mo-nos? Consegues escrever nessas ocasiões? Não duvido! Eu consigo mas não no papel. Assim, desta forma tão organizada, não. Escrevo com linhas tortas ao longo de um tecido que me difunde pelo meu corpo, sem que consiga reconhecer o texto escrito. Linhas que escorrem por mim abaixo. Fica uma amálgama de existências tácitas quando me penso. Modificações fugidias de quem se escreve ao ouvir-se. Ao mesmo tempo, inevitavelmente. Como agora, inevitavelmente. Por isso, tenho dificuldade em aceitar completamente que quando escrevemos estamos perante uma mera escrita. Não, reescrevemos a existência através de novo diálogo: a escrita. Ou seja, produto é processo, diálogo é produto, diálogo é processo, escrever é reescrever, rever é voltar a escrever, sendo que o final é o princípio de um diálogo a iniciar.
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