Deu-me vontade de escrever sobre a neve mas se foi vontade, foi repentina. Toda a gente sabe que a neve é branca, não é? Mas muitas pessoas não sabem o que é tocar em pequenos flocos de neve ou vê-los a cair por cima dos nossos olhos, suavemente ordenados, como que em filinhas para entrar no autocarro. A neve é branca, isso todos sabem. É fofinha e possui uma beleza natural deliciosa. Quando cai encobre o terreno com uma camada clara que aos olhos de seres racionais parece ser de pureza. Cá para mim eu acho que a neve é produto de alguma invenção mais cuidada de meia dúzia de anjos poetas. Por vezes a neve vem abraçada com a chuva. Molha após uns segundos de contacto. Os meninos anjos têm um sentido de humor muito requintado, aliás esta é uma característica presente em todos os seres sobrenaturais. Quando lhes apetece brincar com o teatro de que fazemos parte, mandam-nos neve grossa, com quilos de espessura e com cores várias que só se conseguem ver quando atravessadas pelo arco-íris. Depois é só ver as pessoas a tentarem arrumar a neve para um qualquer sitio enquanto que lá de cima se ouvem lábios de uma cor linda, um misto de vermelho e de branco puro, a sorrir as emoções do último espectáculo transmitido em primeira mão. As casas herdam a fantasia, transformam-se em autênticos portos seguros e calorosos mesmo quando lá dentro não haja nada mais do que gelo. De fora digo eu. Mas é verdade, tudo fica com uma beleza tão singular que nos arrebita a pupila num exercício visual difícil de apreensão total. E viva a neve! A neve voa, a neve conhece-nos, a neve vem e vai, como um menino inseguro. A neve sente-se sempre viva, em toda a vez que cai. A neve é muito fria. Tenho quase a certeza que as pessoas que vivem a neve como tecto de suas casas, que trabalham e gelam o seu corpo na sua frieza, que caminham descalças de corações, não podem chorar. Será que as lágrimas congelam na sua face? E será que os olhos claros choram lágrimas claras? Intriga-me. As pessoas que vivem sem calor, será que essas conseguem captar a beleza proveniente da neve, ou será que o sentimento de desconforto não lhes permite sequer admitir que tal beleza natural pode doer tanto? É uma questão de saber o que está e como está arrumado nas prateleiras da estruturação mental. E os velhinhos abandonados? Será que esses seres entardecidos por um Sol em tons finais, possuem olhares visíveis para perceber que pelo menos a neve é bela? Eu acredito que se consegue ouvir a delicadeza da neve a cair. Eu ouço Amor. Nunca ouviste? O Amor ouve-se como a neve. Cai delicadamente no meu corpo e transforma-se em vida cada vez que me toca como se eu estivesse totalmente potencializado em Amor. O Amor ouve-se com os olhos, com os ouvidos, com a pele, com todas as partes que quisermos ouvir. E ouve-se bem! Muitas vezes o ruído de fundo interrompe o deslizamento e até podia ser por falta de concentração mas não é. Desconcentro-me completamente, relaxo o meu ser em mim, aberto só por uma única mão, e nesse encanto consigo ouvir bem o Amor que se espelha nos meus olhos com palavras da tua alma. A tua assinatura passa em rodapé. E sei que a neve cai lá fora e é bela. Sei que estou embrulhado no teu Amor e sei também que existimos. Mas toda a gente sabe que a neve é branca, não é?
11.18.2005
Neve...redundâncias precisas
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1 comment:
Oh jovem,tu escreves com as letras todas ;) gostei de ler,de vez em quando até dizes umas coisas bonitas ;P []
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