10.27.2009

2x

Elas perduram. Gigantescas histórias que se encontram afastadas por vários anos. Óbvias diferenças, óbvias semelhanças.
O que vos juntou? O que significam? O que significo?
A assinatura no cabelo, o olhar florido, a pele macia do futuro, com que embrulho um olhar atónito e seduzido e perplexo...A voz de veludo, que não seca a língua mas expande o coração. Os passos de pés pequenos, macios e marcantes. A vossa respiração é leve, o vosso olhar invasivo, a vossa presença é poesia. Quem sois vós?
Os olhares escondidos, os silêncios que se animam, a ternura branca do recém nascido.
O odor marcante, a roupa estendida e zangada com o vento de Norte.
O que vos une? Como vos uno na imensa diferença? O que significo?
Pelos dedos, como a água cristalina que, com pressa, se dilui pela rochas...Sem represas; sem escuridão.
Sem medo. Com medo. A repetição urge reanimação.
As letras querem fugir e deixar os sentimentos fluir.
Castelos de água, de terra, de cimento, de ar, de papel, de barro.
Destruo-os. Construo jardins. Construo-os. Destruo-os. Construo-os. As pedras.
A eternidade valerá pela sedução da memória, a vida sentir-se-à pela sua inefabilidade.

10.23.2009

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10.22.2009

Instante

Num instante toda a nossa vida caí de um sorriso imenso para uma cara com contornos melancólicos. E espanta-mo-nos. Surpreendidos, procuramos um balão de ar quente que nos leve até onde o Sol brilha. Mas percebemos que algo mudou. As nuvens são espessas e deixamos de conseguir chegar ao sorriso que nos iluminava. Paramos. Pensamos nos pontos e nos elos, tentando descoser toda a trama. Rompemos os pensamentos à procura das incongruências. Constatamos. A força do momento subjuga-se a uma incrível e decepcionante falta de controlo da nossa vida.
Num segundo, eu ligo o interruptor.
Num segundo, tu desligas o interruptor.
Num segundo, eu desligo o interruptor.
Num segundo, tu vais embora.
Num segundo, procuro-te.
Num segundo, eu ligo o interruptor.
Num segundo, percebo o vazio da sala.
Num segundo, afastas-te para um canto invisível.
Num segundo, o vazio parecem horas de um insano cantar nocturno.
Num segundo, tudo fica na saudade.
Numa vida, as horas, por vezes, são segundos.
Segundos que não se querem perder.
Horas de carinho que se viram fugir.
Dias de levitação que cessam. As rochas magoam.
Foste embora num segundo.
Fico eu nas horas infinitas, procurando-te.

10.06.2009

Outros significativos

Como se cria uma comunidade vibrante, que fervilhe nas nossas mãos? Como poderemos fazer aflorar o brilho nos nossos olhos quando pensamos em Ovar? Como poderemos criar uma memória colectiva que nos dê prazer, que nos faça pensar o quão bom é viver nesta comunidade?

O nosso micro cosmos dirá, provavelmente, que o primeiro parágrafo deste texto é estranho e assustador, assim como será quase inconveniente tentar responder a estas perguntas. Não estamos habituados a este tipo de raciocínios. Pela raíz.

Não estamos familiarizados com o futuro. O nosso futuro tem sido sempre um degrau do passado e não um futuro que se faz hoje, através da acção de todos.

Somos feitos de alcatrão e de betão e os nossos pensamentos parecem ser estradas mal pavimentadas e edifícios de gosto duvidoso. Temos sido os Outros. Lá longe, uns Outros que parecem estar desenhados num quadro esborratado e esburacado, inertes e imagináveis, apenas desligados do olhar que o observa.

Somos feitos de favores, olhares cúmplices, palavras não ditas que roçam significados insustentáveis. Somos rudes quando deveríamos ser compreensivos e simpáticos. Somos vários egos ao serviço de uma teia pegajosa.

Somos feitos de conflitos, sussurrados ao vento, sedentos de intrigas e maledicências. Arrepia-nos a independência e o pensamento que vai para além do horizonte. O que não controlamos amedronta-nos, pois o poder parece-nos fugir, escorregadio, por entre os dedos. E quem somos nós, imposições de poder, berros, insultos, negócios de penumbra e olhares de rapina?

O show off é o nosso lema. Mostramos, impiedosamente, a nossa previsível e insuportável forma de pintar o chão de preto e as paredes de desenhos - sublime!

Os Outros são de papel, assim como de papel é o boletim de voto. Frio, distante. Desligado do olhar do receptor do voto. Mármore que nos gela pela incerteza.

Temos sido estátuas plantadas por todo o concelho, insultados mesmo quando não nos falam. Não precisamos. Somos bons a criar histórias, a puxar o pano e a mexer as marionetas.

A nossa memória é tida como degenerativa. Esquecemo-nos facilmente, dirão alguns. Somos moles, talvez devido às mãos de barro que nos quebram.

As respostas iniciais serão mil perguntas e mil terrores que calcamos para esquecer. Varremo-las para baixo dos tapetes pretos.

A visão não é negra, apenas da cor da pedra.

Pegaremos nas cores, pintaremos respostas, e andaremos pela cidade todos pintados, com a esperança nas mãos.

Somos os Outros Significativos.