Pintariamos a Natureza com diferentes cores e chamariamos-lhe Deuses? Mas não será isso o que fazemos actualmente?
Que motivos alternativos se encontrariam para os insultos e guerras em nome de algo que é visto apenas como uma necessidade de estabelecer uma identidade diferenciada? De dizer “eu sou diferente de ti e sou porque o meu Deus, a minha religião, escreveu estas regras que, por sinal, quero que sejam vistas como muito diferentes das tuas”, ou então “a minha religião é o meu ar porque, na verdade, o teu ar é poluído pelo teu desenvolvimento económico e social e pela minha compreensão que isso soa a uma arrogância”. Deus é colocado no título de capítulos que querem apenas descrever uma forma de justificar rancores, objectivos e planos de estabelecimento de uma matriz própria. Uma forma de dizer “alto lá! Nem penses que me dominas”. Esta generalidade pode ser perigosa, pois aceita uma visão confrontativa. Talvez devessemos notar que poderão haver motivos mais complexos por detrás desta retórica e que assumem contornos que são difíceis de esmiuçar.
Será que se a Natureza fosse compreendida como o único Deus os povos estariam realmente comprometidos com a sua preservação? Provavelmente, respeitariam-na mais ou, pelo menos, pensariam três vezes antes de maltratar o seu Deus. Como seria isso possível se a nossa percepção do espaço é, vulgarmente, indiferenciada dos nossos impulsos de auto-atribuição de posse? Como ultrapassar o hiato entre “aquilo que é a Natureza” e “isto que sou Eu", que somos Nós”? Como chegar ao ponto em que se poderá dizer “a Natureza é o meu Deus e a Natureza somos nós. Nós imitamos Deus no nosso poder que nos foi concedido pela Natureza. Respeitaremos a Natureza, respeitaremos os seres humanos e não humanos, pois eles são nossos irmãos”. Irmãos? Os irmãos brigam e zangam-se. Confusos?
A ingenuidade de uma análise de Pollyana leva-nos a uma visão interessante e desejável mas o caminho para lá chegar deve ser nu e cru como a nossa carne. A Natureza é o nosso Deus e nós somos a Natureza, juntamente com a imensidão total do planeta.
Lá no fundo, não somos pragmáticos. Somos seres que se deliciam com as suas narrativas, que desejam que elas assumam um poder que não têm, impingindo uma modernidade que é passado de um Futuro sustentável.
A nossa diferença deveria levar-nos a colocar um espelho gigante no planeta, para nos darmos conta da enormidade da nossa pequenez, da imensidão do nosso compromisso humano e interdependência.
Se a Natureza fosse aceite como o nosso único Deus teriamos uma generalidade analítica resolvida. Contudo, teriamos que voltar a encontrar a diferença em algo que nos permitisse marcar os contornos de uma identidade. Cá para mim, escolheria apenas a diferença da proximidade, uma totalidade inclusão em si mesma de cada ser, justificável per se.
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