Entrevistador: E esse acesso deve ser notório. Há pessoas que precisam que todos saibam do poder de que estão investidas.
António Coimbra de Matos: Há uns anos, tinha consultório na Rua Padre António Vieira; vivia pior, não tinha secretária e ia eu ao banco fazer as minhas contas. Um colega meu era também cliente desse banco. Uma vez, o gerente disse-me que o meu colega era muito esquisito e que tinha feito um pé-de-vento porque queria que pusessem nos cheques “Professor Doutor”. Não lhe chegava o nome.
Entrevistador: O que quer isso dizer?
António Coimbra de Matos: A gente chama a isto identidade de papel. Se me sinto bem como sou, basta-me ser o Coimbra de Matos. Se não me sinto bem como sou, agarro-me aos títulos: sou director, sou professor….É uma identidade de papel que compõe a minha identidade pessoal.
Identidade de papel é, de facto, uma expressão feliz para mostrar como se constrõem fortunas de poder com castelos de fumo. E assim, infelizmente, se vive em Portugal.
Entrevista lida no Jornal de Negócios (28/11/2008)
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