11.14.2008

Sussurros de inveja

Ela ouvia atentamente a sua imaginação, tentando encontrar rasgos simétricos de humanidade no ser escondido naquela barriga grande.
- Mãe, sabes que eu acho que não tens um filho na barriga? Eu não o vejo. Fecho os olhos e ele não aparece. Ele não pode existir!
- Filha, já te mostrei um bebé, lembraste?
- Oh, oh mãe, mas onde está o bebé se eu não consigo ver? Porque me obrigas a acreditar que tudo será igual quando ele, que "não é" (não o vejo!) nascer?
- Filha, fecha os olhos. Toca com a tua mãe na minha barriga. O que sentes? Calor, Pontapés?
- Sinto amargura. Sinto falta de mim em ti, antecipando a falta que me farás quando a minha casinha, onde me vens acariciar, se esconder no fundo da floresta. Tudo serão árvores densas, erguidas pelo carinho que nutrirás pelas novas formas do teu Amor e pela minha necessidade de clausura.
Farei cozinhados saborosos na minha casa, tu sentirás o odor, limparei o chão e não verás nem uma preciosidade de cotão. Mas tu não verás. Sentirás apenas os meus olhos cravados nas tuas pernas, tentando perceber como poderei trepar até ao teu coração. E ficarás triste por não percebes com que linhas coso a minha hibernação. Sabes mãe, imagino agora o que imaginei há anos. Lembro-me das texturas e das matizes sombrias e lembro-me de uma janela aberta no teu olhar. Puxei-me e subi pelos oblíquos chamamentos que eles me lançaram.
Trouxeste-me de volta.
Mano, vamos sair?

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