Carta de um Professor aos Directores da TSF e DN A propósito
da entrevista de JOSÉ SÓCRATES
Ex.mo Sr. João Marcelino/Paulo Baldaia
Ontem entrei no carro e ouvi os últimos 15 minutos da
entrevista ao nosso primeiro ministro, exactamente no momento em que estavam a
falar de educação que era o que me interessava no momento. A custo, consegui
ouvir até ao fim.
Envio-lhe o meu mais veemente lamento pela forma como a
entrevista, ou o que lhe queiram chamar, foi conduzida porquanto foi permitido
ao Sr. 1º ministro dizer o maior chorrilho de mentiras sem que alguma vez
tivesse sido corrigido. Deixaram-no passar mais uma mensagem propagandística que
peca pela verdade tal como ele nos tem habituado a ouvir a começar pelo seu
processo de habilitações literárias.
Os Srs. jornalistas TINHAM a OBRIGAÇÃO de se documentarem
melhor para fazer uma entrevista dessas. Mais pareceu uma entrevista de "faz
favor de dizer" com questões previamente combinadas porque os entrevistadores
eram pessoas experientes e deviam saber bem o que lá estavam a fazer. Só pode
ter sido. Sócrates teve a oportunidade de explicar a sua educação à sua maneira
e o resto foi servido em bandeja de ouro.
O meu nome é Francisco Teixeira Homem, sou professor na
Escola Secundária Dr. Jaime Magalhães Lima em Aveiro, tenho 34 anos de
serviço.
Tenho ainda uma licenciatura de 5 anos que é verdadeira e rigorosa.
Sou do tempo em que o estágio pedagógico era de 2 anos. Fiz 1 mestrado e a parte
curricular de um 2º mestrado no tempo em que os mestrados eram 2 anos. Tirei o
doutoramento no tempo em que eram de 5 anos. Os investimentos na minha carreira
e profissão foram pagos por mim e pelo sacrifício da minha família. Progredi na
carreira com o cumprimento rigoroso de todos os créditos e subi ao 8º escalão
com provas públicas efectuadas em Coimbra nas instalações da Direcção Regional
de Educação do Centro. Não progredi com benesses até chegar ao 10º escalão onde
tenho a minha carreira congelada e a ganhar tanto como um licenciado.
Por acaso vou ser avaliado por uma professora que é do
mesmo grupo que eu mas há casos de professores de História a avaliar os de
Inglês, de Educação Física a avaliar os de Educação Visual ou Educação Especial,
de Biologia a avaliar os de Matemática... enfim!!!!
Quando um professor
destes vai assistir a uma aula dos outros (e tem de o fazer 2 vezes) está a ser
justo por mais que o queira? Haverá honestidade neste processo?
Não me licenciei a um domingo com 26 das 31 cadeiras em
falta dadas como equivalentes, nem com professores amigos ou reitores presos por
falsificação de documentos, nem com a utilização de cartões do governo. A minha
Universidade é pública, do Porto, e podem ser consultados todos os meus
documentos. Não foi encerrada, como a UNI, só Deus sabe, VERDADEIRAMENTE
porquê.
O Sr. JS mente quando diz que agora há o mérito de
distinguir os professores excelentes dos outros. Uma pessoa cujo percurso
académico cheio de falta de rigor, mérito e excelência não lhe oferece a mais
pequena moralidade para pensar sequer nisso, quanto mais falar. Desculpe voltar
a falar disto mas é uma VERDADE que anda a ser camuflada e continuamente
escondida.
A criação INJUSTA do professor titular no ECD é a MAIOR FRAUDE que
passou impune em Portugal. Os professores foram classificados APENAS pelos
últimos 7 anos de profissão, não pelos conhecimentos mas pelos cargos exercidos.
Imagina certamente o que eu com 34 anos de serviço deva ter prestado ao ensino
como professor. Pois bem, 27 desses meus anos contaram ZERO. RIGOROSAMENTE...
ZERO.
Aqueles anos em que quando mais jovem tinha capacidade para fazer e
vontade para tudo, contaram NADA. Não sei quantos anos de serviço tem o Sr. João
Marcelino/Paulo Baldaia mas diga-me como se sentiria se a sua classificação
fosse feita apenas com base nos últimos 7 anos, não pelos seus conhecimentos e
capacidade mas APENAS pelas funções que prestou. Há professores belíssimos que
foram prejudicados por terem querido ensinar. Há escolas onde ficaram titulares
professores com 86 pontos enquanto outras escolas professores com 130 pontos não
o conseguiram ser.
UMA VERGONHA que a imprensa nunca soube (ou nunca quis)
denunciar. A escola hoje deixou de ENSINAR. O próprio ministério deixou de ser o
Ministério da Educação e passou a ser o Ministério da Certificação. Faça esta
experiência.
Vá a uma escola e diga que se quer matricular para APRENDER.
Para APRENDER!!!!
Não há como nem onde. Até com o sistema de créditos já
acabaram. Mandam-no para os EFAs ou para as Novas Oportunidades. Veja o que isso
é. O que lá se aprende.
Em quantos MESES se pode fazer ao mesmo tempo o 7º,
8º e 9º ano e depois o 10º, 11º e 12º ano. Acabaram com o "Ad Hoc", agora há o
"mais 23". Compare-os.
Agora, com a apresentação do currículo e a entrevista,
um candidato ao ensino universitário fica logo com 60%. Os "trocos" ficam depois
para um exame muito mais SIMPLIFICADO.O Sr. JS falou nos cursos
profissionais.
Vá a uma escola e veja o que é isso de cursos
profissionais. A verdade. E já agora os CEFs. A pressão permanente para que os
alunos passem sem saber apenas e só para uma avaliação estatística. As
permanentes lamúrias da Sr.ª ministra nos custos de uma reprovação e no
facilitismo em reprovar.
Agora na avaliação dos professores é contabilizado o n.º
de alunos reprovados numa vergonhosa e clara afronta à perda de independência.
Que culpa tenho eu que no início do ano me tenha calhado uma turma mal-educada e
pouco estudiosa? Que culpa tenho eu que um aluno abandone a escola porque quer
ir trabalhar ou não gosta de estudar ainda que tudo tenha feito com os pais para
que tal não aconteça? PORQUÊ isso se reflecte na avaliação?
Já alguma vez pediu a uma escola as fichas de avaliação?
Não acredito, desculpe mas não acredito que alguma vez as tenha visto. É
IMPOSSÍVEL que aquilo possa ser seguido, IMPOSSÍVEL. Se não as conhece procure
ver algumas.
Os professores o melhor é deixarem de dar aulas. A Cada escola
tem as suas grelhas de avaliação. São 3 grelhas, qual delas a melhor, sempre
elaboradas da forma mais incrível, injusta, desadequada, complexa, pouco
credível e acima de tudo inexequível.
Isto não é uma brincadeira?
Os professores não têm família e direito ao tempo livre e
lazer? JS falou igualmente no Inglês e na Educação Física das escolas primárias
que já havia antes dele.
Pergunte quanto ganham esses professores e compare
com o que ganha uma empregada doméstica, sem qualquer desprestígio para as
empregadas domésticas.Sr. João Marcelino/Paulo Baldaia, peço-lhe desculpa se me
excedi. Penso que não. Acredito que com algumas destas "dicas", futuras
entrevistas suas ao sr. JS serão diferentes. A verdade é que andamos de tal
forma a ser maltratados e enxovalhados com tanta MENTIRA que após o programa da
TSF que é uma rádio que oiço sempre, senti necessidade de "desentupir".
É
estranho, muito estranho mesmo que a certas pessoas seja permitido fazer passarincolumemente certas mensagens. E o Sr. primeiro-ministro é
uma delas. Usa e abusa.Este foi o direito à minha INDIGNAÇÃO.
Queira aceitar os meus mais respeitosos
cumprimentos,O professor Francisco Teixeira HomemUma boa carta contra a ignorância.
11.19.2008
Carta de um Professor aos Directores da TSF e DN
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