A dor arrebata-nos como uma sedutora insaciável; uiva como uma granada que nos estilhaça a organização pessoal. É reles porque nos relembra o egoísmo atómico da vida, o sentido de preservação em choque com a austeridade da complexidade de quem se consegue colocar no lugar do outro. O Outro. É sempre o Outro. Sempre a pegada que seguimos, o trilho que tentamos recriar pelas coordenadas que os outros nos deixam...no coração de veludo. Guardamos. Esperemos. Imaginamos. Sonhamos.
E continuamos.
A dor, sempre a dor lancinante de quem demora a perceber que de facto o ser são seres em equilíbrio precário, seguros por uma subtileza que cheira a pó de sedução. Um passo à frente e todos vêem. Todos nos lêem nos olhos as lágrimas e conseguem abrir em cada uma o mundo de segredos que afinal não são mais do que papelinhos escritos no ar. E fogem. Fogem-nos das mãos e as nossas mãos esfumam-se. Simplesmente não conseguimos segurar a morte. Nem a vida. Para nosso temor.
E morremos.
Um bocadinho de nós esfuma-se quando só nos resta a compreensão de que uma grande parte da inteligibilidade criada desaparece subitamente. A necessidade projectada no olhar do outro, de o ver, tocar, sentir, acarinhar, imaginar, quebra-se e com isso vão as estepes que seguram as nossas Almas.
Almas são simplesmente criações subtis que substituem o ímpeto (re)construtivo de continuar a acompanhar o que não espera por nós. São raios que nos cegam. Raios amargos, raios doces.
À medida que acomodamos uma parte de nós num cantinho confortável do nosso interior (nosso, eu e tu, nós, vós, eles, o nosso) seguimos confiantes de que perdemos uma parte substancial do Amor que une. Escorrem, vertem-se. Caem. E ricochetam.E bate-nos no fundo do silêncio pensar que estamos sozinhos, abandonados por aquilo que abandonamos a meio do caminho entre o que damos e o que não nos podem dar.
A dor é um projecto do sofrimento, vivida de mais para se vergar a fotos ou para se deixar tocar. Assola-nos insolentemente. E sofremos a dor que nos consola. Porque sofremos para nos acarinhar-mos, mesmo que isso nos leva à redutora sensação de fragmentação total e desmembramento psicológico.
Não. Dor. Alegria.
Acorda. Beija. Bom dia! Dormiste bem?
No comments:
Post a Comment