3.01.2006
Não é nada disso
Amar uma pessoa é fácil, explicar é tactear o vento e conhecer-lhe as plumas. Como um guardador de segredos que apenas conhece o segredo de guardar segredos. Como tingir o pôr do sol com as marcas idóneas das pegadas do mar. Como o girassol que patenteia o momento, num longo e amarelado campo de incertezas. Amar uma pessoa é algo relativamente inefável. Se as palavras se embriagavam, a realidade fechava as suas cortinas. Amar é encontrar em cada acordo tácito um nó que une pela desenvoltura com que se desenrola aos pés do futuro. Amar é calar metade do Universo que ama a outra parte. Amar é inexplicavelmente ageográfico. Não é uma ponte, muito menos uma linha. Não é uma barragem, uma foz ou um braço de água. Um oceano que se afunda, talvez…Um sol que se derrete..Passos. Amar é negociar com uma posição que corporizamos, uma imensidão de posições que pela sua exotopia degladia-se com o fim do mundo ao virar da esquina. Amar é uma alma atípica, materialmente indisposta, interiormente co-composta. Situa-se no paralelo da imaginação, junto à extremidade do Amor. Amar não é Amor. É fácil e acessível sentir Amor. Amar é esquecer o óbvio e procurar o corpo, a memória da memória, os fugazes momentos de sublime harmonia entre dois átomos da mesma molécula. Amar é modificar e ser modificado e não recear o Amor. Amar é indefinir uma definição e, nessa alarmante e romântica passagem, co-construir as rotas de um novo mundo. Amar é desprezar o que até aqui foi escrito e reescrever tudo de novo. Amar é rasgar a pele e o coração e, caminhar nu pela nudez.
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